Capítulo 4

Às vezes, leio algum artigo esperançoso sobre como Tacoma está tão elitizada que chega a rivalizar com Seattle. Mas, quando meu ônibus chega ao meio do deserto, a impressão que tenho é de desespero, como se a cidade estivesse se esforçando demais e fracassando. Tipo algumas das amigas de Tricia no bar: mulheres de 50 anos que usam minissaia, salto plataforma e maquiagem, mas não estão enganando ninguém. Tiazona querendo parecer novinha, é como os caras da nossa cidade costumam se referir a elas.
Quando Meg foi embora, prometi que a visitaria todos os meses, mas acabei vindo só uma vez, em outubro passado. Comprei uma passagem para Tacoma e, ao chegar a Seattle, dei de cara com Meg à minha espera na rodoviária. A ideia dela era passear por Capitol Hill, jantar em um chinês baratinho em Chinatown e assistir ao show de uma banda em Belltown, de um pessoal que ela conhecia — tudo o que costumávamos falar que iríamos fazer quando fôssemos morar juntas ali. Meg estava empolgadíssima com o plano; eu não sabia se a intenção dela era me convencer a ir de vez para lá ou me oferecer um prêmio de consolação.
De todo modo, foi um fracasso. Na nossa cidade, o tempo estava limpo, mas ali chovia. Outro motivo para não me mudar para Seattle, disse a mim mesma. E nenhum dos lugares que visitamos — os brechós, as lojas de revistas em quadrinhos e os cafés — pareceram tão legais quanto eu tinha imaginado. Pelo menos foi o que eu disse a Meg. “Desculpe”, lamentou-se, não em um tom sarcástico, mas com sinceridade, como se o fato de Seattle ser decepcionante fosse sua culpa.
Mas eu estava mentindo. Seattle era maravilhosa. Mesmo com aquele clima horrível, eu teria adorado morar aqui. Por outro lado, tenho certeza que iria adorar morar em Nova York, no Taiti ou em milhares de outros lugares que não conhecia.
Acabamos não assistindo ao show, pois falei que estava cansada e preferia não ir. Então, voltamos para a casa em que ela morava em Tacoma. Eu deveria ter ficado o dia seguinte quase inteiro, mas aleguei dor de garganta e peguei um ônibus de volta para casa logo cedo.
Meg me convidou outras vezes, mas eu sempre tinha desculpas: estava muito ocupada ou a passagem de ônibus era cara. As duas coisas eram verdadeiras, embora não fossem toda a verdade.

° ° °

Do centro da cidade, você tem que pegar dois ônibus para chegar ao pequeno e bucólico campus da Cascades na zona portuária. Joe me instruiu a ir até o prédio da reitoria para apanhar alguns documentos e uma chave. Embora Meg morasse fora do campus, a universidade era responsável por todos os alojamentos estudantis. Quando explico quem sou, eles percebem imediatamente por que estou aqui. Sei disso por conta dos olhares que recebo.
Odeio esse tipo de olhar, que passei a conhecer muito bem: falsa empatia.
— Sentimos muito pela sua perda — lamenta a senhora que me atende. Ela é gorda e usa o tipo de roupa folgada que a faz parecer mais gorda ainda. — Temos um grupo de apoio que faz sessões semanais para todos os afetados pela morte de Megan. Se quiser participar, haverá uma sessão em breve.
Megan? Ninguém a chamava assim, só os avós dela.
A mulher me entrega um folder informativo, uma xerox colorida com uma foto sorridente de Meg que nunca vi antes. Está escrito Apoio à Vida na parte de cima, com corações no lugar dos pingos dos “is”.
— Vai ser na segunda à tarde.
— Infelizmente, já não estarei por aqui.
— Ah, que pena. — Ela faz uma pausa. — Tem sido uma experiência muito catártica para a comunidade aqui do campus. Estão todos muito chocados.
Chocado não é bem a palavra. Chocada eu fiquei quando enfim convenci Tricia a me contar quem era o meu pai, apenas para descobrir que, até os meus 9 anos, ele morava a menos de 30 quilômetros de nós. O que aconteceu com Meg é totalmente diferente; é como acordar uma manhã e descobrir que agora você está morando em Marte.
— Vou passar só esta noite aqui.
— Ah, que pena — repete a mulher.
Ela me entrega um molho de chaves, me diz como chegar à casa, pede para eu telefonar se precisar de qualquer coisa e eu saio dali antes que ela me dê um cartão de condolências. Ou pior: um abraço.
Na casa em que Meg morava, bato à porta, mas ninguém atende, portanto entro direto. O interior cheira a cerveja, pizza e maconha. Também tem o odor da amônia de uma caixinha de areia suja. Ouço bandas tocando Phish ou Widespread Panic, o tipo de música hippie ruim que faria Meg querer se matar. Então me dou conta do que estou pensando e lembro que ela fez isso mesmo.
— Quem é você?
Uma garota alta e extremamente bonita está parada na minha frente. Ela veste uma blusa verde estilo tie-dye com um símbolo hippie da paz, e me encara com um sorrisinho esnobe.
— Cody. Reynolds. Estou aqui por causa de Meg. Para pegar as coisas dela.
Ela fica tensa. Como se a menção do nome de Meg tivesse cortado totalmente o seu barato.
Já odeio essa garota. E, quando ela se apresenta como Tree, meu desejo era que Meg estivesse ali para podermos trocar aquele olhar imperceptível que desenvolvemos com o passar dos anos para compartilhar nosso desprezo mútuo. Tree? Árvore?
— Você era uma das colegas de república dela? — pergunto.
Quando chegou ali, Meg me mandava longos e-mails sobre as aulas, os professores, o estágio e, às vezes, enviava em anexo desenhos hilários de cada um dos colegas de república, feitos com lápis de carvão, que ela escaneava para mim. Era o tipo de coisa que normalmente eu teria adorado, me deliciando com a arrogância dela, porque era assim que sempre havia sido: Meg e Eu Contra o Mundo. Na nossa cidade, as pessoas nos chamavam de Unha e Carne.
Mas, ao ler os e-mails, eu tinha a sensação de que ela estava exagerando de propósito os defeitos daquelas pessoas para que eu me sentisse melhor, e isso só fazia eu me sentir pior ainda. Seja como for, não me lembro de nenhuma Tree.
— Sou amiga de Rich — responde Tree, a hippie nojenta.
Ahh, Richard Locão, como Meg o chamava. Eu o conheci na última vez que estive aqui.
— Vou fazer o que eu vim fazer.
— Então faça — retruca Tree.
Tanta hostilidade é um choque depois de um mês inteiro de pessoas pisando em ovos ao meu redor.
Espero encontrar, em frente à porta de Meg, um daqueles altares que surgiram por toda a cidade; sempre que vejo um deles, minha vontade é destruir as flores e jogar fora as velas.
Mas não é isso que encontro. A capa de um disco está colada à porta. Feel the Darkness, do Poison Idea. A imagem é a de um cara com uma arma apontada para a cabeça. Essa é a ideia de homenagem dos colegas de república dela?
Respirando fundo, destranco a porta e giro a maçaneta. O lado de dentro também não está como eu esperava. Meg sempre havia sido bagunceira, seu quarto em casa cheio de pilhas vacilantes de livros e CDs, desenhos, coisas que ela começava e deixava pela metade: uma lâmpada que estava tentando reinstalar, um filme em Super-8 que queria editar. Sue disse que os colegas tinham simplesmente trancado a porta e deixado o quarto como estava, mas parece que alguém esteve aqui. A cama está feita. E a maioria das roupas dela já está dobrada. Há caixas desmontadas debaixo da cama.
Vou levar no máximo duas horas para fazer o que preciso. Se soubesse, teria pegado o carro dos Garcias para ir e voltar no mesmo dia.
Sue e Joe me ofereceram dinheiro para um quarto de hotel, mas não aceitei. Sei como eles vivem apertados e como cada centavo que sobrava ia para a educação de Meg, que, mesmo com uma bolsa integral, ainda tinha vários outros gastos. E a morte dela foi mais uma despesa.
Falei que iria dormir aqui. Mas, agora que estou no quarto dela, não consigo deixar de pensar na primeira e única noite que passei nele.
Meg e eu dividíamos camas e sacos de dormir desde pequenas, sem nenhum problema. Mas, na noite da minha visita, não consegui pregar os olhos ao lado de Meg, que dormiu como uma pedra. Ela estava roncando um pouco e eu a cutucava, como se o ronco fosse o que me impedia de dormir. Quando nos levantamos na manhã de domingo, algo de ruim tinha se enraizado no meu peito e eu estava louca por uma briga. Porém, a última coisa que queria fazer era brigar com Meg. Ela não havia feito nada. Era minha melhor amiga. Então, fui embora mais cedo. E não foi por causa de nenhuma dor de garganta.
Voltei para o primeiro andar. A música tinha mudado de Phish para algo um pouco mais animado. The Black Keys, acho. É uma mudança um tanto estranha. Um grupo de pessoas está sentado em um sofá de veludilho roxo, dividindo uma pizza e uma embalagem de doze cervejas. Tree está presente, então passo direto, ignorando todos, bem como o cheiro de pizza que faz meu estômago roncar, pois não comi nada, exceto um bolinho no ônibus.
Lá fora está ficando enevoado. Ando um pouco até chegar a uma zona com algumas lanchonetes. Sento em uma delas e peço um café. Quando a garçonete me olha com cara feia, peço um menu de café da manhã de 2,99 dólares, que pode ser servido a qualquer hora do dia, supondo que isso me dê o direito de acampar ali pelo resto da noite.
Depois de algumas horas e de quatro ou cinco xícaras de café, ela basicamente me deixa em paz no meu canto. Pego meu livro, desejando ter trazido algum thriller daqueles que você não consegue parar de ler. Mas a Sra. Banks, a bibliotecária da nossa cidade, me viciou em autores da Europa Central nos últimos tempos. Ela entra nessas fases comigo. Tem sido assim desde os meus 12 anos, quando ela me vira lendo um romance de Jackie Collins no bar onde eu às vezes tinha que ficar, durante o trabalho de Tricia. A Sra. Banks me perguntara o que mais eu gostava de ler, e eu mencionara alguns títulos, a maioria edições baratas que Tricia trazia para casa da sala de descanso.
— Você é uma leitora e tanto — comentara a Sra. Banks na ocasião, e me convidara a dar um pulo na biblioteca na semana seguinte.
Quando fui até lá, ela fez meu cadastro para eu ter um cartão e me emprestou exemplares de Jane Eyre Orgulho e preconceito.
— Quando terminar, me diga se gostou deles e eu emprestarei alguma outra coisa.
Li os dois em três dias. Gostei mais de Jane Eyre, embora tenha odiado o Sr. Rochester e preferisse que ele tivesse morrido no incêndio. A Sra. Banks sorriu quando eu lhe disse isso, então me emprestou Persuasão O morro dos ventos uivantes. Daí em diante, passei a ir à biblioteca no mínimo uma vez por semana para ver quais livros ela havia separado para mim.
Eu achava incrível que nossa biblioteca minúscula tivesse um acervo tão inesgotável. Levei anos para descobrir que a Sra. Banks vinha pedindo às outras bibliotecas livros que achava que eu iria gostar.
Mas, nesta noite, o contemplativo Milan Kundera que ela me deu está deixando minhas pálpebras pesadas. Todas as vezes que meus olhos ameaçam se fechar, a garçonete, como se tivesse um radar, vem me reabastecer de café, mesmo que eu nem tenha encostado nele desde a última vez.
Aguento até as cinco da manhã e pago a conta. Deixo uma gorjeta generosa, pois não sei se a garçonete estava sendo antipática ao não me deixar dormir ou se me impedia de ser expulsa daqui. Ando pelo campus até as sete, o horário de abertura da biblioteca, então encontro um canto sossegado e durmo algumas horas.
Quando volto à casa de Meg, um cara e uma garota estão tomando café na varanda.
— E aí? — diz o cara. — Cody, não é?
— É.
— Richard.
— Eu sei, já fomos apresentados antes.
Ele não parece lembrar; devia estar chapado demais.
— Eu sou Alice — fala a garota.
Lembro que Meg mencionou que uma nova colega de república tinha vindo para o período de inverno, substituindo outra garota que havia pedido transferência depois de um semestre.
— Onde você se meteu? — pergunta ele.
— Passei a noite num motel — minto.
— Não no Starline! — exclama Alice, alarmada.
— Ahn? — Demoro alguns segundos para me tocar que o Starline é motel. O motel de Meg. — Não, em outro.
— Quer um café? — indaga Alice.
Tomei tanto café na noite anterior que fiquei com azia. Por mais que esteja sonolenta e exausta, não consigo nem pensar em beber mais e o recuso.
— Quer dar uma cachimbada? — pergunta Richard Locão.
— Richard! — Alice lhe dá um tapa no ombro. — Ela tem todas aquelas coisas para arrumar. Não acho que vá querer ficar doidona.
— Acho que ela vai querer, sim.
— Não, obrigada — garanto, mas o sol está conseguindo atravessar com dificuldade a fina camada de nuvens e deixando tudo tão claro que fico zonza.
— Sente aqui. Coma alguma coisa — diz Alice. — Estou aprendendo a fazer pão e acabei de assar uma nova fornada.
— Está menos parecido com tijolo do que o normal — garante Richard.
— Está ótimo. — Alice faz uma pausa. — Se você passar bastante manteiga e mel.
Não quero pão. Não quis conhecer estas pessoas antes e certamente não quero conhecê-las agora. Mas, quando me dou conta, ela já buscou o pão e voltou. Estava meio duro e massudo, mas Alice tinha razão: com manteiga e mel, até que era passável.
Terminei de comer e limpei os farelos do colo.
— Bem, é melhor eu começar. — Fui em direção à porta. — Mas parece que alguém já fez a parte mais pesada. Vocês sabem quem arrumou as coisas dela?
Richard e Alice se entreolharam.
— Foi assim que ela deixou o quarto — conta Alice. — Ela mesma o arrumou.
— A garota quis estar no controle da porra toda até o fim — acrescenta Richard. Ele me olha e faz uma careta. — Desculpe.
— Tudo bem. Vai me poupar trabalho — tranquilizo-o, meu tom de voz tão indiferente que é como se eu estivesse me livrando de um estorvo.

° ° °

Demoro umas três horas para arrumar o resto das coisas dela. Deixo de fora blusas e calcinhas furadas; afinal, por que iriam querer isso? Jogo no lixo um monte de revistas de música, que estão empilhadas em um canto. Não sei bem o que fazer com os lençóis, pois ainda têm o cheiro dela. E não faço ideia se isso terá o mesmo efeito em Sue que está tendo em mim: me lembrar de Meg de uma maneira concreta e visceral — das vezes em que dormimos uma na casa da outra, de quando saíamos para dançar e conversávamos até as três da manhã, ficando um bagaço no dia seguinte, mas também nos sentindo ótimas, porque as conversas eram como transfusões de sangue, momentos que pareciam mais reais, mais esperançosos, e que eram pontinhos de luz na escuridão da vida em uma cidade pequena.
Sinto a tentação de cheirar os lençóis. Se fizer isso, talvez seja suficiente para apagar tudo. Mas você só consegue prender a respiração até certo ponto. Em algum momento, terei que soltar o cheiro dela; então, vai ser como aquelas manhãs, em que acordo e me esqueço antes mesmo de lembrar.

° ° °

A agência de correio fica no centro, portanto preciso pegar um táxi para levar as coisas de carro, despachá-las, voltar para pegar as bolsas e estar pronta para apanhar o último ônibus, às sete. No andar de baixo, Alice e Richard estão onde eu os havia deixado. Fico na dúvida se os alunos desta faculdade supostamente prestigiosa estudam em algum momento.
— Quase acabei — falo para eles. — Só preciso fechar as caixas e já vou embora.
— Vou pegar os gatos antes de você ir — oferece-se Richard.
— Que gatos?
— Os dois gatinhos de Meg — diz Alice, entortando a cabeça para o lado. — Ela não falou deles?
Eu me recuso a demonstrar qualquer surpresa. Ou mágoa.
— Não estou sabendo de gato nenhum.
— Ela encontrou dois gatinhos na rua alguns meses atrás. Estavam bem desnutridos e doentes.
— Com uma parada nojenta saindo dos olhos — acrescenta Richard.
— É, eles estavam com alguma infecção na vista. Entre outras doenças. Meg os acolheu. Gastou uma fortuna no veterinário com tratamentos e cuidou deles até ficarem saudáveis. Ela era apaixonada por aqueles gatinhos. — Alice balança a cabeça. — Foi isso que me deixou mais surpresa. Que ela tenha se dado o trabalho de cuidar tão bem desses gatos e então...
— É, bem, Meg era difícil de entender — interrompo, a voz tão azeda que juro que eles devem sentir o cheiro da amargura no ar. — E os gatos não são problema meu.
— Mas alguém tem que tomar conta deles — insiste Alice. — O pessoal da casa vem se encarregando disso, mas é proibido ter animais de estimação aqui e vamos estar todos fora durante o verão. Além do mais, ninguém pode ficar com eles.
Dou de ombros.
— Tenho certeza de que vocês vão encontrar uma saída.
— Você já viu os gatinhos? — Alice dá a volta na casa e começa a ciciar. Logo duas bolinhas de pelo aparecem saltitando na sala. — Este aqui é Grapette. — Ela aponta para o que é quase todo cinza, com uma mancha preta no nariz. — E o outro é Repete.
Grapette e Repete saíram de barco. Grapette caiu na água. Quem se salvou? Xavier, o tio de Meg, nos contou esta piada e nós costumávamos atormentar uma a outra com ela.
Repete. Repete. Repete.
Alice coloca um dos gatinhos nos meus braços e ele começa imediatamente a fazer aquela coisa com as patas que os gatos fazem quando querem mamar. Por fim, o bichano desiste e pega no sono, uma bolinha em meu peito. Sinto uma fagulha se acender bem fundo, um eco de um tempo distante, quando ainda não estava tudo congelado aqui dentro.
O gato começa a ronronar: estou ferrada.
— Tem algum abrigo para animais por aqui ou coisa parecida?
— Tem, mas eles abrigam dezenas de gatos e só ficam com eles por três dias antes de, bem, você sabe. — Alice passa o dedo pelo pescoço como se ele fosse uma faca.
Grapette, ou talvez seja Repete, continua ronronando nos meus braços. Não posso levá-los para casa. Tricia teria um ataque. Ela se recusaria a deixá-los entrar e eles seriam comidos por coiotes ou morreriam de frio em um piscar de olhos. Posso perguntar se Sue e Joe querem ficar com eles, mas já vi como Samson corre atrás dos gatos.
— Tem uns abrigos que não matam os bichos em Seattle — intervém Richard. — Vi uma parada da Frente pela Libertação Animal que falava sobre isso.
Eu suspiro.
— Está bem. Vou passar por Seattle na volta e posso deixá-los lá.
Richard dá uma risada.
— Não é tipo deixar roupa na lavanderia. Você não pode simplesmente largar os bichos lá. Tem que marcar um horário para, tipo, preencher um registro ou coisa assim.
— Desde quando você deixa roupa na lavanderia? — pergunta Alice.
Grapette/Repete mia nos meus braços.
— A sua viagem de volta demora quanto tempo? — indaga Alice.
— Sete horas, e ainda tenho que enviar as caixas por correio.
Ela olha para mim e depois para Richard.
— São três agora. Se você for para Seattle deixar os gatos em um abrigo, pode ir embora amanhã cedo.
— Por que você não deixa os gatos? Já que tem tudo tão planejado?
— Preciso fazer um trabalho para a minha cadeira de estudos feministas.
— Mas e depois que você terminar?
Ela hesita por um instante.
— Não. Estes gatos eram de Meg. Não me sinto à vontade largando-os em um abrigo.
— Ah, então vai deixar o trabalho sujo para mim? — questiono, irritada.
Sei que não foi Alice quem deixou o trabalho sujo para eu fazer, mas, quando ela se retrai, sinto uma espécie de satisfação cruel.
— Caramba. Eu levo você de carro para Seattle — diz Richard. — Deixamos os gatos no abrigo, depois você pode voltar para cá e sair da cidade assim que acordar amanhã.
Ele parece querer se ver livre de mim tanto quanto eu quero me ver livre dele. Pelo menos o sentimento é recíproco

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