Capítulo 2

Primeiro tem as cerimônias em memória de Meg. Depois as vigílias. Mais tarde, os círculos de oração. Não é fácil saber o que fazer em cada um deles. Nas vigílias, você segura velas, mas às vezes também faz isso nos círculos de oração. Nas cerimônias, as pessoas conversam, mas o que há para dizer?
Já é ruim o bastante que ela tenha morrido. Por escolha própria. Mas, só por me sujeitar a tudo isso, eu teria sido capaz de matá-la.
— Cody, você está pronta? — pergunta Tricia.
É uma quinta-feira, fim de tarde, e estamos indo para a quinta missa do mês. Desta vez, é uma vigília à luz de velas. Acho.
Saio do quarto. Minha mãe está fechando o zíper do traje que comprou de segunda mão após a morte de Meg. Ela o vem usando como traje de luto, mas tenho certeza que, depois que tudo isto passar, ele vai ser promovido a vestido de festa. Ela fica muito bonita com ele.
Como no caso de muita gente na cidade, o luto lhe cai bem.
— Por que ainda não está pronta? — questiona ela.
— Todas as minhas roupas boas estão sujas.
— Que roupas boas?
— Está bem, todas as minhas roupas vagamente fúnebres estão sujas.
— Como se você ligasse para isso.
Nós nos encaramos, emburradas. Quando eu tinha 8 anos, Tricia anunciou que eu já era velha o suficiente para lavar minhas próprias roupas. Eu odeio lavar roupa. Você já deve ter imaginado o resultado.
— Não sei por que precisamos ir a outro evento.
— Porque a cidade precisa digerir o que aconteceu.
— A cidade precisa mesmo é de mais um drama para se distrair.
A nossa cidade tem 15.074 habitantes, de acordo com a placa desbotada da autoestrada. “Quinze mil e setenta e três”, corrigiu Meg quando conseguiu fugir para uma faculdade em Tacoma após receber uma bolsa integral no outono passado. “Quinze mil e setenta e dois depois que você vier para Seattle e nós formos morar juntas.”
Continua em 15.073 agora, e desconfio que vá ficar assim até alguém nascer ou morrer. A maioria das pessoas não sai daqui. Mesmo quando Tammy Henthoff e Matt Parner largaram o marido e a esposa para fugirem juntos — a fofoca mais quente por aqui antes de Meg —, eles foram morar em um trailer nos arredores da cidade.
— Preciso mesmo ir?
Não sei por que me dou o trabalho de perguntar. Tricia é minha mãe, mas não tem esse tipo de autoridade. Sei que preciso ir e sei por quê. Por Joe e Sue.
Eles são os pais de Meg. Ou eram. Ainda me confundo com os tempos verbais. Você deixa de ser pai de alguém quando a pessoa morre? Quando ela escolhe morrer?
Joe e Sue estão arrasados, suas olheiras tão fundas que não vejo como poderão desaparecer um dia. E é por eles que coloco meu vestido menos fedorento e me preparo para cantar. De novo.
Preciosa graça. Que um dia me irritou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião nos comentários ☺