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Depois que me acalmo, vamos andando até um dos passeios à margem do rio. A noite já está caindo, mas lanchas e jet skis continuam zunindo para lá e para cá. O pujante Colorado parece mais um aqueduto pavimentado do que um grande rio. Como tudo nesta viagem, não é como eu esperava. Digo a Ben que não acredito que este é o majestoso rio Colorado.
— Vem cá — diz ele. E eu obedeço, descendo uma rampa até à beira d’água. — Quando eu era criança, tinha um mapa enorme em cima da minha cama. — Ele se ajoelha ao lado da água. — O rio Colorado começa nas montanhas Rochosas, atravessa o Grand Canyon e vai descendo até o golfo do México. Pode não parecer grande coisa aqui — ele se inclina e pega um pouco d’água com as mãos —, mas, quando você pega a água, meio que pega também um pedaço das montanhas Rochosas, do Grand Canyon.
Ele se vira para mim com as mãos ainda unidas em forma de cuia, acima das minhas. Bem separa as dele e a água do rio, que veio de lugares desconhecidos, cheia de histórias não contadas, flui dele para mim.
— Você sempre sabe o que dizer para eu me sentir melhor — comento, tão baixinho que penso que minhas palavras foram engolidas pelo barulho dos jet skis.
Mas ele ouve.
— Você não achava isso quando nos conhecemos.
Não. Ele está enganado. Porque, embora eu o tenha odiado, sempre houve algo em Bem McCallister que fazia com que eu me sentisse melhor. Talvez seja por isso que o odiei. Porque eu não deveria me sentir melhor. E certamente não por causa dele.
— Desculpe.
Ele estende a mão, segura meu pulso e eu agarro o dele, minhas próprias mãos ainda molhadas pelas águas do rio misterioso.
Não o solto, e ele tampouco, a água do rio continuando entre nós até voltarmos ao motel, onde, dentro do quarto quente demais, começamos a nos beijar. É um beijo tão sôfrego quanto o primeiro na casa dele, meses atrás, mas é diferente também. Como se estivéssemos nos abrindo para algo. Mais beijos. Minha blusa cai no chão, a de Ben cai em seguida. A sensação da sua pele nua contra a minha é espantosa. Quero mais. Arranco o jeans dele. Abro o zíper da minha saia.
Ben para de me beijar.
— Tem certeza?
Os olhos dele mudaram novamente, azul-escuros como os de um recém-nascido.
Tenho certeza.
Vamos para a cama, braços e pernas enroscados. Sinto na pele quanto ele está quente, duro, mas contido também.
— Você tem camisinha? — pergunto.
Ele se abaixa e tira um pacotinho de papel laminado da carteira.
— Tem certeza? — diz ele outra vez.
Eu o puxo para mim.
Quando acontece, começo a chorar.
— Quer que eu pare? — indaga Ben.
Não quero que ele pare. Embora a dor seja mais forte do que eu esperava, não choro por estar doendo tanto. Choro por estar sentindo tanto.

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