30

Estou novamente na biblioteca para fazer uma pesquisa, mas desta vez é simples. Preciso apenas saber como chegar a Laughlin. A parte mais difícil já passou.
Mal consigo acreditar. Passei semanas à procura de All_BS, e às vezes era como se eu estivesse perseguindo um fantasma. Mas agora o encontrei. Tenho um endereço. Na noite passada, Harry me telefonou com todas as informações de contato de All_BS, ou melhor, Bradford Smith.
— Você é muito foda, Harry Kang, um gênio!
— Gênio tudo bem, eu aceito, muito foda aí já não sei — disse ele, e deu para imaginá-lo sorrindo outra vez.
— Obrigada, Harry. Muito obrigada.
— Não. Eu é que agradeço — respondeu ele baixinho. — Foi divertido. Mas também me fez bem. Como se eu tivesse tido a chance de fazer algo por Meg. — Ele fez uma pausa. — Você vai à polícia agora?
— Ainda não decidi. Estava pensando em ir até lá eu mesma primeiro.
Harry ficou calado e depois alertou:
— Tome cuidado, Cody. Parece uma coisa abstrata quando você está lidando com as pessoas on-line, mas elas ainda são pessoas. E algumas delas não são nada boas, o tipo de gente de quem você quer distância.
Às vezes, mesmo a distância, elas conseguem fazer mal a você, pensei.
— Vou tomar cuidado — prometi. — Obrigada mais uma vez.
— Como eu disse, foi um prazer. Não é tão difícil assim rastrear uma pessoa.
— Sério?
Harry riu.
— Talvez não para mim.
E foi então que tive a outra ideia.
— Se eu pedir, você acha que consegue rastrear mais uma?

° ° °

São trinta horas de viagem até Laughlin, é preciso trocar de ônibus três vezes e eu gastaria 300 dólares para ir e voltar. Tenho o dinheiro e posso tirar os dias de folga se precisar. Mas, quando penso nas sessenta horas sozinha nos ônibus, começo a sentir um embrulho no estômago e a escuridão finca suas garras em mim. Não vou conseguir ir sozinha, tendo como companhia apenas Bradford e Meg.
Faço uma lista mental das pessoas que poderia pedir que fossem comigo. Não há ninguém da cidade. Jamais pediria a Tricia, e os Garcias estão obviamente fora de cogitação. Meus amigos da escola, que nunca foram tão próximos assim, se afastaram de vez. Quem mais? Sharon Devonne?
Talvez o pessoal de Cascades. Só que Alice ainda está trabalhando em Mountain Bound. Harry estará na Coreia até meados de agosto. Só resta Richard Locão. Não é a pior ideia do mundo. Ele voltou para passar o verão em Boise, que fica no caminho. Eu poderia pegar um ônibus para lá e depois iríamos de carro.
Há ainda outra pessoa. Mas, assim que penso nela, entendo que, na verdade, não há.
Porque, de certo modo, ela estará tão envolvida nisso tudo quanto eu.
A mensagem de voz continua no meu celular. Nunca a ouvi, mas também não a apaguei. Decido ouvi-la agora. Tudo o que diz é o seguinte: “Cody, o que você quer de mim?”
Palavras podem ter vários significados. Essa pergunta pode ser feita em um tom de irritação, incômodo, culpa ou resignação.
Torno a ouvi-la. Desta vez, me permito ouvir o grunhido familiar de medo, preocupação e ternura.
Cody, o que você quer de mim?
Então eu lhe digo.

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