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Depois que descubro o fórum do Solução Final, passo o máximo de tempo possível vasculhando os arquivos do site.
É difícil conseguir internet em nosso Cu do Judas, então faço quase toda a minha pesquisa na biblioteca. Mesmo depois da intervenção de Meg, o local possui um horário de funcionamento limitado, e a maior parte dele coincide com o meu trabalho. Se tivéssemos internet em casa, eu poderia fazer muito mais, mas, quando levanto a hipótese para Tricia, e até me ofereço para pagar, ela faz pouco do assunto:
— Por que iríamos querer isso?
Antes, eu teria ido à casa dos Garcias e usado o computador deles. Mas já não me sinto à vontade para fazer isso, mesmo se não fosse para investigar o suicídio de Meg. Então, só me resta a biblioteca.
— Está gostando dos tchecos? — pergunta a Sra. Banks para mim certa tarde.
Fico confusa por alguns instantes, depois me lembro dos livros que peguei emprestados. Nem cheguei a abri-los.
— São interessantes — minto.
Geralmente, leio dois ou três livros por semana e tenho comentários muito específicos sobre a trama ou os personagens para dividir com ela.
— Quer que eu os renove para você?
— Seria ótimo. Obrigada.
Viro de volta para o computador.
— Ainda trabalhando naquele projeto de pesquisa?
— Pois é.
— Posso ajudar em alguma coisa? — Ela se inclina para dar uma olhada na tela.
— Não! — falo um pouco alto demais enquanto me apresso a minimizar a janela.
A Sra. Banks parece surpresa.
— Desculpe. Você tem andando tão concentrada nisso, achei que precisasse de ajuda.
— Obrigada. Mas não precisa. Acho que não sei bem o que estou procurando.
Esta parte é verdade. A cada dia que passa, mais postagens são publicadas. Alguns pedem incentivo ou conselhos sobre como fazer um nó de forca, outros querem apenas ajudar companheiros ou amigos que sofrem de doenças terminais a morrerem com dignidade. E tem ainda os textos indignados totalmente aleatórios sobre Israel, o preço do combustível ou os ganhadores do American Idol. Eles usam toda uma linguagem própria, abreviaturas para diferentes métodos, gírias, como pegar o ônibus, que é como as pessoas ali se referem a se matar.
A Sra. Banks aquiesce.
— Eu já trabalhei como pesquisadora. Quando você está lidando com um tópico difícil, o truque é se concentrar em um tema. Você precisa focar em algo específico em vez de fazer uma busca generalizada. Então, talvez você possa buscar um determinado elemento do movimento neonazista.
— Pode ser. Obrigada.
Depois que a Sra. Banks se afasta, reflito sobre o que ela disse. Os arquivos do site têm uma função de pesquisa, mas, quando a usei para procurar o tipo de veneno que Meg tomou, o motel em que ela se hospedou, a Universidade de Cascades ou qualquer outra coisa específica do caso dela, não obtive nenhum resultado.
Mas, ao olhar para as mensagens, vejo que todos precisam usar algum tipo de ID do usuário. Obviamente, Meg não usaria Meg. Então, tento outras coisas. Runtmeyer. Mas nada aparece. Luisa, o nome do meio dela. Nada. Digito os nomes das suas bandas preferidas. As garotas roqueiras que ela queria ser. Nada. Estou prestes a desistir quando tento Firefly — “vaga-lume”.
Uma tela cheia de mensagens aparece. Algumas delas contêm referências a vaga-lumes. E pelo menos uma dúzia de nomes de usuário que são variações de Firefly. Parece ser um nickname popular; talvez porque vaga-lumes têm uma vida muito curta.
E é justamente quando estou pensando sobre a ligação entre vaga-lumes e suicidas que vejo: Firefly1021. 10/21. Vinte e um de outubro. O aniversário de Scottie. Com os dedos trêmulos, clico na mensagem mais antiga, do começo deste ano. A linha de assunto diz: Passos incertos.

Tenho pensado nisso há muito tempo, e não sei se estou preparada, mas pelo menos estou preparada para admitir que venho pensando no assunto. Por mais que eu goste de me ver como Buffy — fodona, destemida —, não sei se sou destemida o suficiente para fazer isso. Será que alguém é?

Deve ser assim que arqueólogos se sentem quando desencavam civilizações escondidas. Ou como aquele cara se sentiu ao encontrar os destroços naufragados do Titanic. Quando você sabe que algo está perdido, mas o encontra assim mesmo.
Porque, olhem, aqui está Meg.
Corro os olhos pelas respostas. Há mais de dez. São muito calorosas, dando-lhe as boas-vindas ao grupo, parabenizando-a pela coragem de admitir o que está sentindo, dizendo-lhe que a sua vida pertence somente a ela e que Meg tem o direto de fazer o que bem entender. E é muito estranho, porque, embora eu saiba o motivo para essas pessoas lhe darem os parabéns, a primeira coisa que sinto é orgulho. Porque essas pessoas conheceram a minha Meg; estão vendo como ela é incrível.
Continuo lendo. Várias mensagens parecem ter sido escritas por pirralhos do sexto ano, cheias de erros ortográficos e gramaticais. Mas uma das mais antigas se destaca. É de um usuário chamado All_BS.

Passos incertos? Isso existe? Lao-Tsé certa vez disse: “Uma viagem de mil léguas começa com o primeiro passo.” Ele também afirmou que “vida e morte são um só fio, uma só linha vista de lados diferentes”. Você deu o primeiro passo, não em direção à morte, mas em direção a outra maneira de viver sua vida. Isso, por si só, é a definição de destemor.

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