11

Um conselheiro acadêmico da faculdade comunitária me deixou uma mensagem, dizendo que eles estão cientes das minhas “circunstâncias atenuantes” e que poderia me receber para encontrarmos uma maneira de reavaliar minha situação. Madison, uma garota que fez a maioria das aulas comigo na escola, também me liga e deixa outra mensagem perguntando se estou bem.
Não retorno nenhuma das duas ligações. Volto ao trabalho e pego mais algumas faxinas, seis por semana agora, ganhando um bom dinheiro. O notebook da Meg fica na minha mesa com os livros da escola, todos juntando poeira. Até que, uma bela tarde, a campainha toca.
Dou de cara com Scottie na varanda; Samson está amarrado ao parapeito.
— Vim aceitar sua oferta de fazer picadinho de mim.
— Entre.
Nós ligamos o computador.
— O que vamos jogar? — pergunto.
— Pensei em começarmos com Soldier of Solitude.
— O que é isso?
— Aqui, deixe eu mostrar. — Ele abre o navegador. — Humm. — Fuça mais um pouco. — Não aparece nenhuma rede. Talvez a gente precise reiniciar o roteador.
— Não tem roteador nenhum, Scottie. Não temos internet.
Ele me encara, então olha ao redor como se estivesse lembrando quem eu sou, quem é Tricia.
— Ah, tudo bem. Podemos jogar o que tiver no seu computador. — Ele puxa o notebook para junto de si. — Quais jogos você tem?
— Não sei se Meg tinha algum jogo.
Scottie e eu nos entreolhamos e quase sorrimos. Meg odiava videogames. Achava que eles sugavam neurônios valiosos. E, como era de se esperar, não há nada no computador, exceto os jogos que já vêm instalados.
— Podemos jogar paciência — sugiro.
— Paciência não dá para dois jogadores.
Sinto que o decepcionei. Começo a fechar o notebook. Mas então Scottie o segura aberto.
— Foi desse computador que ela mandou a mensagem?
Scottie tem 10 anos. Tenho certeza que não é saudável para ele falar sobre esse tipo de assunto. Não comigo. Fecho o computador.
— Cody, ninguém me conta nada.
A voz dele é puro lamento. Lembro-me do adeus que Meg enviou para ele, também deste computador.
— É, foi deste computador que ela enviou a mensagem.
— Posso ver?
— Scottie...
— Eu sei que todo mundo quer proteger minha inocência e tudo o mais, mas minha irmã tomou veneno. É meio tarde demais para isso.
Eu suspiro. Tenho uma cópia impressa do bilhete de suicídio guardada em uma caixa debaixo da cama, mas sei que não é isso que ele quer ver. Sei que ele já viu, leu ou ouviu falar da mensagem. Mas Scottie quer ver de onde ela veio. Abro a pasta de itens enviados. Mostro a mensagem. Ele estreita os olhos para lê-la.
— Você nunca achou estranho ela dizer que a decisão era dela “e de mais ninguém”?
Balanço a cabeça. Não tinha achado.
— É que, quando nós éramos apanhados fazendo alguma coisa que não devíamos juntos, e ela queria evitar que eu levasse a culpa, era isso que falava aos nossos pais: “Scottie não teve nada a ver com isso. A decisão foi minha e de mais ninguém.” Era assim que ela falava para me proteger.
Me lembro de todas as vezes em que Meg convenceu Scottie a participar de algum de seus planos mirabolantes e depois teve que livrar a pele dele. Ela sempre sofria as consequências no lugar do irmão. Na maioria das vezes, merecidamente. Ainda não entendo direito o que ele quer dizer, então este menino de 10 anos precisa falar com todas as letras:
— É quase como se ela estivesse protegendo alguém.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Deixe sua opinião nos comentários ☺